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  • Foto do escritorVerónica Rivas

A importância da Energia nas práticas mágicas

Atualizado: 4 de nov. de 2021




Em qualquer sistema mágico que usemos ou, até mesmo, quando decidimos colocar em prática uma técnica de meditação, de cura, devocional (entre outras) existe implícita uma certa concepção de Energia. Essa “energia” recebe diferentes nomes dependendo da tradição, da cultura, mas, independentemente desses nomes, vemos que as características apresentadas são praticamente as mesmas. Também, se recorremos as páginas de diferentes grimórios ou tratados mágicos de qualquer tradição, vemos que, quando se descrevem as práticas para conseguir um determinado objetivo, não somente se fala da preparação da pessoa através de rituais de purificação mas, também, encontramos referências aos lugares em que deveriam ser praticadas, assim como às “circunstancias” dadas pela época do ano, posições planetárias, fases da lua, entre outros.


Por exemplo, quando estudamos o Feng Shui Clássico (deve ser diferenciado do que alguns chamam Feng Shui New Age, este amplamente divulgado mas que se afasta bastante dos pilares que deram início à prática ancestral do Feng Shui), vemos que existem épocas do ano nas quais não deveríamos iniciar construções ou obras arquitetônicas, existem momentos mais propícios que outros para iniciar novo projetos, novos estudos, ou contrair matrimonio. Mas, que também existem situações nas quais podemos “manipular” a Energia para melhorar uma situação ou para conseguir um objetivo. Também, existem momentos do dia mais propícios para meditar, ou realizar devoções, rituais de cura, entre outros... e isto depende da pessoa e de todas as suas circunstancias no momento dado.


Stephen Skinner, no seu livro “Feng Shui. The Living Earth Manual” expressa o seguinte:


O Ch’i atua em todos os níveis – no nível humano é a energia que flui através dos meridianos da acupuntura do corpo; no nível agrícola é a força que quando não está estagnada traz colheitas férteis; e no nível climático é a energia transportada pelos ventos e as águas. (1)

Do tipo de Ch’i (ki) que existe na terra vai depender a qualidade dos frutos que vamos colher e, portanto, os efeitos que esses alimentos vão ter quando consumidos. Esse Ch’i (ki) da terra pode ser alterado pela ação humana, seja de uma forma positiva ou negativa; por esta razão, os sábios chineses aconselhavam que, antes de fazer uma plantação, tinha que se levar em consideração a configuração energética do ambiente para determinar os melhores momentos para cada fase do processo de produção. Os sábios chineses perceberam, desde muito cedo, que a Energia (Ch’i) que se manifesta na paisagem, por exemplo, não somente influencia a forma geográfica do lugar, mas também influencia o estado da nossa mente e, portanto, o nosso corpo físico. Mas, essa configuração energética do lugar não é fixa, já que tem um aspecto que está em permanente transformação; desta forma, se vê afetada pela influência dos planetas, as fases da lua, pelas atividades que ali se realizem. A nossa energia muda se estamos perto do mar, ou se estamos em um parque muito arborizado dentro de uma cidade; também, se a cidade está perto de rios ou não, se estamos em uma caverna ou tomando um banho de cachoeira. Esse Ch’i (ki) específico de cada lugar afeta as pessoas dependendo das suas próprias configurações energéticas e do momento que atravessam nas suas vidas.


Em quase todas as tradições mágicas, como falamos anteriormente, existem instruções bem claras sobre lugares ou momentos específicos nos quais certas operações devem ou deveriam ser feitas para obter os resultados esperados. Também o treinamento da mente mediante técnicas como a meditação por exemplo, se fazem indispensáveis para perceber de uma forma clara, e mais livre possível de juízos pessoais, o que está acontecendo nesse preciso momento. Na literatura mágica de diferentes tradições vamos encontrar muitos exemplos que fazem referência a este aspecto. Entre Maias e Náuatles, para se comunicar com os ancestrais os sacerdotes costumavam ir a cavernas escuras, ou ao lugar mais afastado da floresta onde estivessem as árvores mais antigas, coberto de peles de animais. Nestes lugares, eles faziam oferendas aos deuses do Submundo e untavam seu corpo com uma mistura de ervas, cinzas e sangue. Dessa forma, tanto o lugar quanto os elementos rituais empregados produziam uma alteração energética que levava ao estado de transe. Por outro lado, em Japão, os Yamabushi, ou ascetas das montanhas, se retiravam a lugares afastados para conseguir a liberação das ataduras do mundo dualístico. Estes também realizavam, em bosques ou lugares de difícil acesso nas montanhas, rituais de cura e de exorcismo.


Também podemos citar como exemplo disto o grande Mestre Tântrico Padmasambhava, considerado historicamente o fundador do Budismo Vajrayana. Ele realizou vários estados ou recebeu vários ensinamentos em práticas realizadas em cemitérios, ou em lugares que estivessem ligados com a morte. Outros em montanhas ou perto de lagos, e muitas práticas foram reveladas para ele em cavernas. Em Tibete, as práticas adivinhatórias e, sobretudo, o que poderíamos de chamar Geomancia, estavam muito desenvolvidas na época de Padmasambhava, e isto era herança da cultura chinesa.


A nossa existência humana está determinada pelo Ch’i (ki) que trouxemos ao nascer, pela configuração energética no momento dado do nosso nascimento, e pelo Ch’i (ki) que constantemente estamos intercambiando com o nosso ambiente, com as pessoas com as quais nos relacionamos, dos alimentos que consumimos, entre outros. A nossa interação com o ambiente, mesmo quando trabalhamos, quando descansamos, quando conversamos ou cumprimentamos alguém na rua, pode ser apresentada em termos de um constante intercambio de Ch’i (ki). Existem lugares que nos fazem sentir felizes, outros nos inspiram para criar coisas, outros dos quais queremos sair correndo e o mesmo nos acontece com as pessoas. Mas, os lugares e as pessoas nem sempre vão ter o mesmo efeito em nós, já que tanto eles quanto nós estamos em permanente mudança. O Ch’i (ki) está em constante movimento, constantemente se transformando em coisas, em pensamentos, em modos de sentir e de perceber a realidade.


Os indianos chamam a essa força vital de prana; deste modo, Swami Niranjananda Saraswati, para começar a falar de prana, conta uma estória que aparece nos Upanishads. A história diz que as divindades que residem no corpo (água, ar, fogo, terra, éter, fala e mente) estavam discutindo sobre qual delas era superior à outra. Prana, que estava ali ouvindo o debate fez a sua intervenção dizendo: “não se iludam a vocês mesmas, fui na verdade eu quem se dividiu em cinco partes as quais sustentam este corpo”. As outras divindades não acreditaram; então, o prana começa a sair do corpo e, no mesmo momento, todas as outras divindades começam a se ver a sair do corpo também. Quando o prana regressa, as outras conseguem regressar e ocupar seus respectivos lugares.


Com isto compreendemos claramente que prana é parte essencial dos elementos que compõem o corpo, sem prana nada tem existência. Prana é a força vital em constante movimento que imprime vida e essência a tudo o que existe. Assim, quando, por exemplo, na Ioga praticamos algumas das técnicas respiratórias que se conhecem como pranayama, não estamos simplesmente respirando de uma forma “diferente” por uns momentos, estamos nos conectando com a fonte da existência mesma, com a fonte da nossa existência e alterando a forma em que prana flui pelo nosso corpo. As consequências disto vão ser observadas, as vezes progressivamente, outras vezes rapidamente, em todas as áreas da nossa vida.


Patanjali afirma que: “Angustia, depressão, nervosismo e dificuldade para respirar são sintomas de um estado distraído da mente”. E continua dizendo que, na verdade, a chave para obter grandes benefícios e realizações se reduz a aprender a regular a inalação e exalação da energia vital (prana). É por isto que, na prática da Ioga, se enfatiza tanto focar nossa atenção na respiração em conjunto com a postura (asana) e desta forma, entre outras coisas, vamos conseguindo sentir como a energia flui em nós, de que forma, mas sobre todo, vamos nos fazendo conscientes de que podemos modificar esse fluxo. Também, quando nos iniciamos em Reiki, aprendemos algumas práticas de meditação que tem como propósito nos tornar cada vez mais sensíveis e perceptivos aos fenômenos energéticos que acontecem dentro de nós e no nosso entorno. Em realidade, essas práticas se focam em última instancia na observação da respiração como método de acalmar a mente, de não estar sempre imersos no diálogo que nossa mente mantém constantemente consigo mesma.


Como vemos, o Ch’i (ki) ou, se preferimos, o prana ou simplesmente a Energia, é uma fonte inesgotável em permanente transformação e ,mesmo sendo a causa da nossa existência, não nos pertence. Vejamos as palavras de Koichi Tohei ao respeito:


Nossas vidas são como a quantidade de água que podemos tirar do grande mar e segurar nas nossas mãos. Chamamos isso de “eu”. Sim, é o mesmo que chamar a água de “nossa”, porque a seguramos em nossas mãos. Por outro lado, do ponto de vista da água, ela é uma parte de grande mar. Embora, se abrimos as mãos, a água cairá de volta ao mar, mesmo que permaneça nas nossas mãos está em confluência com o grande mar exterior. Se nos recusamos a deixar a água fluir sozinha, ela ficara obsoleta. Nossas vidas são uma parte do ki universal enclausurado na carne de nossos corpos. Embora digamos que isto sou “eu”, visto com os olhos da mente, é realmente o ki universal. Mesmo que o ki esteja envolto em carne, está confundido e ativo como parte do universal. (2)

Considerando tudo isto, é de grande importância entender como a energia se comporta e até que ponto influencia as técnicas mágicas que aprendemos e aplicamos. Também, o é entender como a nossa mente funciona, para mudar de uma atitude reativa a uma atitude ativa. É de grande importância que quem se dedica ao trabalho com qualquer sistema mágico (ou - se prefere chamar assim - de cura, ou talvez devocional, etc.) se dedique ao estudo de todas as questões que envolvem tanto a teoria quanto a prática. No caso particular de técnicas como Reiki, por exemplo, considero que todo curso deveria incluir uma boa introdução ao conceito de Energia que aborde ambos esses aspectos.


(1) Skinner, Feng Shui. The Living Earth Manual.

(2) Tohei, Ki in Daily Life

Fontes:

Legeza, Laszlo. Tao Magic. The Chinese Art of the Occult.

Legeza, Laszlo e Rawson Philip. Tao. The Chinese Philosophy of Time and Change.

Niranjananda Saraswati, Swami. Prana and Pranayama.

Niranjananda Saraswati, Swami. The Secrets of Prana.

Patanjali, Yoga Sutras. Traduzido do Sânscrito por Swami Madhvacharya.

Skinner, Stephen. Feng Shui. The Living Earth Manual.

Tohei, Koichi. Ki in daily life.

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